O Presidente angolano autorizou um crédito adicional de 2.677 milhões de kwanzas (3,4 milhões de euros) para o pagamento de despesas do Sinse (Serviço de Informação e Segurança do Estado), refere um diploma hoje publicado no Diário da República. É compreensível. Se a pandemia do Covid-19 e a crise petrolífera não afectam a distribuição financeira do Governo, os 20 milhões de pobres… também não.
O documento acrescentou que o crédito “deve ser atribuído faseadamente, em função das necessidades de pagamento e após esgotadas todas as verbas atribuídas inicialmente”. Ou seja, às prestações. Tal como fazem, todos os dias, os milhões de pobres: só comem hoje o que encontraram nos caixotes do lixo há três ou quatro dias.
Num outro diploma com a mesma data, 26 de Novembro, o Presidente João Lourenço, aprovou a implementação da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), lançada pelo G20, e autorizou a ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, a negociar, aprovar e assinar os termos e condições específicas de qualquer documentação relacionada com esta iniciativa.
Por outras palavras, tudo quanto seja para conseguir mais fiado ou, se possível, não pagar o fiado já conseguido deve ser assinado sem demoras nem hesitações. Aliás é visível a coerência e consistência da política financeira e económica do Governo: milhões para a “Secreta” mesmo ao lado da mendicidade dos autóctones.
Na semana passada, a ministra participou num evento ‘online’ “Investir em África”, realizado pela agência Bloomberg, indicando estarem ainda a ser negociados os termos do acordo do pagamento da dívida aos principais credores.
“Em relação aos credores na China, beneficiámos da iniciativa DSSI com um dos credores nas mesmas condições que os outros bancos que fazem parte da iniciativa. Ao mesmo tempo estamos, também, a negociar com outros dois credores com quem temos parcerias comerciais. Uma negociação que nos dê um alívio fiscal e que nos permita gastar com outras despesas, muito necessárias como a saúde”, referiu.
Nada de mais coerente. Se os Serviço de Informação e Segurança do Estado precisavam de mais unas largos milhões para garantir a sua “saúde”, eles aí estão. E é deste tipo de “saúde” que fala o governo de João Lourenço e não daquela que, quando falha, mata as pessoas e que não preocupa quem quando tem necessidade voa para Inglaterra, EUA ou Espanha para se tratar.
De acordo com Vera Daves de Sousa, o desejável seria um alívio fiscal para os próximos três anos, começando a contar em 2020, estimando que desse negociação resultaria um alívio de poupança de quase 6 mil milhões de dólares (cinco mil milhões de euros) resultantes da negociação, o que se traduziria numa grande ajuda para alavancar a economia e financiar os inúmeros “Sinses” que ajudam a manter a ditadura.
Recorde-se que a ministra da hipocrisia, Vera Daves, disse num encontro do Fundo Monetário Internacional que as principais prioridades a curto prazo são impedir um colapso do sistema de saúde e garantir a sustentabilidade da dívida. E assim se vai, uns cantando e rindo, outros morrendo quando estavam quase a saber viver sem comer.
“A primeira prioridade é sobreviver, preservar a vida tanto quanto possível e assegurar que o sistema de saúde não colapsa, e depois manter a sustentabilidade da dívida, que são os nossos principais pilares da estratégia a curto prazo”, respondeu Vera Daves, quando questionada sobre as prioridades do Governo angolano para os próximos meses… caso do Sinse.
A ministra falava num encontro virtual organizado pelo FMI, no âmbito dos Encontros Anuais, com o título “Pós-Covid-19: Recuperação e Resiliência”, que contou com a participação da directora executiva do FMI, Kristalina Georgieva.
“Temos de olhar para as expectativas da nossa população e para a necessidade de garantir um crescimento inclusivo, precisamos de crescer mais de 3%, que é o ritmo a que a nossa população cresce, para assegurar as condições para terem acesso a empregos e serviços públicos de qualidade”, apontou a ministra das Finanças. Ministra da Hipocrisia, num governo de hipócritas, é uma boa designação.
Na conversa que manteve com a jornalista da Bloomberg Francine Lacqua, e na qual participaram também o director-geral da BlackRock e o enviado especial das Nações Unidas para a Acção e Financiamento sobre o Clima, Vera Daves admitiu que é difícil gerir as necessidades financeiras de curto prazo e, ao mesmo tempo, definir estratégias mais longas. Sendo, contudo, certo de que a longo prazo uma guerra, uma purga, um pandemia ajudam a diminuir o número de pobres, solidificando a tese de que os angolanos devem viver sem comer e morrer sem ficarem doentes.
“Precisamos de tratar dos assuntos de curto prazo, a saúde, a dívida, mas também precisamos de ter condições adequadas para crescer e atrair investimento e tornar real o enorme potencial que Angola tem”, defendeu a governante, certamente a pensar (entre outros investimentos estratégicos e potenciadores da nossa economia) no Serviço de Informação e Segurança do Estado.
Durante a sessão, Vera Daves voltou a pedir uma extensão da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) e argumentou que o “espaço para respirar” dado por esta iniciativa é importante, mas precisa de ser complementado com novos financiamentos. Ou seja, mais fiado, mais tempo para pagar o fiado.
“Precisamos de combinar estas iniciativas de suspender ou adiar o serviço da dívida com uma iniciativa que permita financiamento fresco para garantir que podemos recuperar a economia e as empresas que lutam para ter acesso a esses fundos, já que o Estado, por si próprio, não consegue apoiar todas as Pequenas e Médias Empresas (PME) que lutam para ficar abertas e não despedir pessoas”, argumentou Vera Daves. Tal como acontece com o Sinse (Serviço de Informação e Segurança do Estado).
As reformas “só são possíveis com coragem e optimismo”, acrescentou, concluindo que “as pessoas têm de acreditar que hoje podem sofrer, mas amanhã terão os benefícios do sofrimento trazido por todas estas reformas”. Vejam o exemplo do Sinse (Serviço de Informação e Segurança do Estado).
O FMI prevê que Angola enfrente uma recessão de 4% este ano, marcando o quinto ano consecutivo com um crescimento negativo, e que a dívida pública suba para os 120,3% do PIB. Mas o Sinse (Serviço de Informação e Segurança do Estado) vai tratar do assunto.